A convite da AEICE, no âmbito do projeto Duradouro EU financiado pela União Europeia, a ABVP participou com o meu blog – 365 dias no mundo – numa visita à região raiana de Trás-os-Montes e Castela e Leão. A ação decorreu de 18 a 22 de abril, tendo terminado em Alcañices no Fórum Territórios com Futuro, onde participei na última mesa-redonda para partilhar os momentos mais marcantes da blogtrip.
A AEICE recorreu a seis blogs de viagem (cinco espanhóis e um português) e a jornalistas espanhóis e portugueses para partilhar os recursos culturais e territoriais do rio Douro e da Reserva da Biosfera da Meseta Ibérica. Durante cinco dias, entidades públicas e privadas cooperaram, ignorando fronteiras, para apresentar o que de melhor têm e atrair mais visitantes à região.
Estivemos na região transfronteiriça a conhecer não só a região, mas também as pessoas que a tornam especial. Passei aqueles dias apaixonada pelos relatos que ouvi: regressar às raízes familiares, manter negócios de família ou começar de novo no interior. A região é marcada pelo abandono jovem, talvez por isso as histórias de quem ficou ou regressou às origens familiares tenha sido tão marcante para mim.
Castela e Leão
O primeiro dia começou em Zamora com a chegada de comboio, o mesmo onde, por coincidência, viajava a rainha emérita Sofia. Veio fazer uma visita ao Banco Alimentar enquanto Presidente da sua Fundação e mostrar preocupação pela perda de população na região, precisamente a mesma reflexão que decorreu no Museu do Vinho Pagos del Rey enquanto apresentavam o projeto Duradouro EU.
Esse dia continuou com visita ao museu e ao centro histórico de Toro. É de destacar a Colegiada de Toro, com os seus portais e uma vista privilegiada para o Douro.
O segundo dia começou na Queijaria Chillón. Gustavo foi o nosso anfitrião e contou a história da família e do negócio. Falou-nos dos avós, do pai, dos irmãos, e do que se faz ali. Provámos os seus queijos depois de ver o museu, e ainda tivemos o prazer de ver o carro antigo do avô que recuperou.
Em Sanzoles del Vino foi-nos apresentada a tradição do Zangarrón, no seu museu. Se não conhecem, a máscara e o traje estão representados em Bragança, no Museu Ibérico da Máscara e do Traje. A responsável pelo museu explicou detalhadamente a festa, que se inicia a 26 de dezembro.
De seguida fomos conhecer uma adega tradicional subterrânea, a Finca Volvoreta, com uma cultura totalmente biológica de vinhas Toro, seguindo as regras de denominação protegida. É com as vinhas de Maria como fundo que sou entrevistada para dizer o que penso do Douro, ou Duero. Torna-se já evidente que de tudo o que vou ver, serão as pessoas que vão ficar mais marcadas na minha memória.
Seguimos para o Parque Lagunas de Villafáfila, também em visita guiada. O parque é uma escolha perfeita para famílias com crianças, amantes de aves e pessoas que gostam de caminhar na natureza. Conseguimos ver as abetardas, endémicas da região.
O terceiro dia começou nas ruínas do Mosteiro Granja de Moreruela. Somos os únicos no local, além dos funcionários que trabalham nas obras de recuperação, revelando-se uma boa escolha para quem gosta de visitar espaços pouco procurados por turistas.
A visita a Espanha terminou aqui, onde passámos a fronteira para entrar em Trás-os-Montes.
Trás-os-Montes
Começamos em Vimioso, onde já tínhamos estado em 2021, e soube tão bem regressar. Reconheci várias caras e senti-me em casa. Visitámos o PINTA (Parque Ibérico da Natureza e Aventura de Vimioso) onde “lançámos a manta” ao almoço. O projeto “lançar a manta” é um almoço em piquenique de produtos regionais do Vimioso servido no lameiro do PINTA. Dentro do mesmo espaço ficam os burros da Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino (AEPGA), onde é possível passear os animais, penteá-los ou dar-lhes abraços. Daí seguimos para os pombais de Uva, com a Palombar, e o Castelo de Algoso.
De seguida tivemos uma experiência completamente inovadora para mim, uma prova sensorial de azeite em Macedo de Cavaleiros. No Núcleo Museológico do Azeite “Solar dos Cortiços” uma especialista em azeite explicou-nos passo a passo como experimentar o azeite de forma a desfrutar de toda a intensidade do seu paladar. Fomos também conhecer o Centro de Ciclismo do Quadrassal; a porta de entrada de Macedo de Cavaleiros fica na antiga linha do Tua, estação de Cortiços. A Quadrassal tem 200km de percursos de BTT e duas portas de entrada, a de Cortiços e a de Vale do Lobo (Mirandela).
No quarto dia visitámos Podence, onde conhecemos a Sofia, que largou a enfermagem para criar os fatos de careto. Com o namorado, mais tarde marido, repararam que não havia quem fizesse os fatos. Fazer um fato tem vários passos: é preciso tecer a manta, fazer as franjas, construir e pintar a máscara, fazer o cinto de couro e aplicar os chocalhos, que são o único elemento que não é feito por ela, mas sim nos Chocalhos Pardalinho. Experimentei pintar máscaras na Quinta do Pomar, não esquecendo que é suposto parecer um “diabo”, ser assustadora, usando poucas cores. A base preta ou vermelha, e as cores dos caretos – vermelho, verde e amarelo.
Também percorremos as ruas de Podence, não nos esquecendo de ver os murais pintados por um artista local (Trip Dtos).
Na região fica a albufeira do Azibo, onde fizemos um passeio de barco com os irmãos Ângela e Acácio, da Sun Azibo Cruzeiros. O barco é solar e vinha acompanhado de um lanche local: bolo da mãe dos anfitriões, queijo e enchidos da região, e fruta, tudo “regado” por vinho local.
Visitámos também Bragança, com passagens pelo castelo (Museu Militar) e Domus Municipalis. Como choviam abdicámos do cocktail ao pôr-do-sol no Parque de Montesinho e fomos para Rio de Onor, a aldeia dividida pela fronteira. Já não tínhamos o Ti Mariano para nos apresentar a aldeia, como eu tinha vivido em 2020, mas veio o Sr. Domingos para nos falar da divisão entre Rihonor e Rio de Onor. O cocktail aconteceu na Casa do Touro em Rio de Onor e depois fomos para Gimonde. Na viagem de autocarro tivemos a sorte de ver veados no Parque do Montesinho. Regressámos na manhã seguinte a Espanha.
Onde comer na região?
O restaurante Doña Negra serviu o almoço volante no Museu Pagos del Rey. O jantar foi no restaurante La Colegiata, onde provámos algumas especialidades do chef. Na Finca Volvoreta fizemos outro almoço volante com Produtos Pinza, compotas, queijos, pão e vinho. O jantar foi na casa de Victor com um showcooking da Petramora. O Chef Mikel Zeberio fez alguns pratos com produtos regionais, como as carnes e enchidos de Carnicas la Culebra, os produtos Petramora e os vinhos Bigardo.
Voltámos a almoçar em Espanha no fim do Fórum em Alcañices, o arroz zamoriano, um último almoço volante que nos permitiu ir conversando com todos os participantes.
Em Portugal almoçámos no Vimioso na criativa e imperdível iniciativa “lançar a manta”. No Hotel/Restaurante Alendouro comemos pratos criados pela Marisa. A Marisa apanhou os cogumelos, as ervas da salada e serviu uma exemplar posta. Em Bragança comemos na Taberna do Javali, onde o Chef Flávio reinventa pratos típicos, como a francesinha e o hambúrguer.
Jantámos no Abel em Gimonde, a casa das postas.
Onde ficar na região?
A primeira noite foi no Castillo Monte de la Reina, um castelo neogótico com adega, vinhas e um espaço para casamentos (Finca Monte la Reina).
Apesar de na segunda noite ter ficado num espaço de co-working e co-living de uma empresária local, foi o alojamento de Victor, onde jantámos todos, que mais me marcou. Victor vivia em Madrid e decidiu largar o stress e a responsabilidade de uma grande empresa para começar de novo, criando a Donde Victor Luna. É uma casa com quartos, que pode ser utilizada como espaço inteiro ou quarto a quarto.
Em Portugal ficámos no Hotel Alendouro (Macedo de Cavaleiros), onde fomos muito bem recebidos, e no Eco Resort do Montesinho (Gimonde).
Viagem a convite da AEICE, no âmbito do projeto Duradouro EU, financiado pela União Europeia.