O Outubro Rosa celebra-se anualmente como uma forma de sensibilizar para a prevenção do cancro da mama e homenagear as mulheres que têm cancro. Dia 30 de outubro é o Dia Nacional de Prevenção do Cancro da Mama e é importante lembrar que parte dessa prevenção é responsabilidade individual.
Sou técnica de radiologia e filha de uma mulher que teve cancro da mama. Durante anos fiz milhares de mamografias a mulheres, algumas também a homens. Felizmente a maioria estava saudável, muitas tinham sobrevivido ao cancro da mama e algumas receberam o diagnóstico com esse exame. Vi vários estados de espírito, muitas vezes alegria por sobreviver e uma espécie de sentido de missão de fazer a vida valer a pena por ter conseguido superar a doença; também vi revolta e tristeza.
A prevenção faz-se de muitas formas: conhecer o seu corpo e saber reconhecer alterações, ir ao médico aos primeiros sinais de alarme, fazer exames quando necessário, etc. Uma delas é manter um estilo de vida saudável, ter melhores hábitos. Está estudado que o estado mental é um factor decisivo na doença, adesão ao tratamento e comunicação com familiares, melhorando parâmetros médicos.
Não se pode considerar a arte de viajar como um bom hábito? Algo saudável, que faz bem? E quando estamos à distância de uma viagem dos nossos familiares e amigos nesses momentos em que precisam de nós? E mulheres com cancro da mama não podem viajar?
Perguntei às associadas da ABVP o que sentem sobre o Outubro Rosa e elas partilharam.
Começo por mim,
Raquel Morgado (365 dias no mundo)
Outubro Rosa e o que aprendi com o cancro da minha mãe
O meu testemunho é estar a trabalhar em Luanda e a minha mãe me dizer que iria ser operada em Coimbra a um tumor maligno. Lembro-me de pedir ao meu patrão para antecipar a minha viagem para poder estar com ela e não ter sido possível. Recordo-me de sentir alguma culpa. Culpa porque a devia ter lembrado regularmente de fazer o rastreio, já que via mulheres com a doença quase todas as semanas. Culpa porque a minha distância sobrecarregava o meu irmão. E de me sentir muito longe, apesar de apenas nos separarem 7h de avião e existirem vários voos diários entre Angola e Portugal.
Hoje que vejo aproximar-se a idade crítica (menos dez anos da idade que tinha o familiar quando o cancro foi diagnosticado) penso no meu papel na prevenção ou num diagnóstico precoce. A minha prevenção passa por não me esquecer de que a minha mãe teve cancro da mama, ter hábitos saudáveis, ir regularmente ao médico e fazer exames, quando necessário, conhecer as minhas limitações e condição de saúde e, acima de tudo, concretizar os meus sonhos para manter a minha mente sã. Parte dos meus sonhos começa num aeroporto, e passa por viver experiências únicas. A outra parte passa por conseguir encontrar uma forma de sustentar/concretizar esses desejos. As minhas experiências únicas são sempre vividas de forma segura, com um risco calculado, a maioria das vezes, pois para mim não vale tudo por uma viagem. No entanto também acredito que em algumas circunstâncias viajar pode não promover o bem estar físico e mental, por isso deve ser feito de forma consciente.
E viajar quando se tem ou teve cancro é possível? Claro. Deixo-vos o exemplo da Olha-te (Programa de Férias de Recuperação | Turismo Emocional”). Colaboram com a Segurança Social da Bélgica para trazer doentes oncológicos a Portugal num programa turístico adaptado aos doentes e acompanhados dum médico. O Outubro Rosa lembra-me de que tenho um papel na prevenção da doença e promoção da minha saúde.
Ana CB (Viajar Porque Sim)
Outubro Rosa, mês de prevenção do cancro da mama
Outubro Rosa remete-nos para a importância da prevenção do cancro da mama, mas não só. Como mulher e viajante, sinto que é vital manter-me o mais possível em forma e de boa saúde. Uma doença imprevista estraga o prazer da viagem, e lá diz o ditado que vale mais prevenir do que remediar. A vigilância (os aborrecidos exames de rotina…), tanto em relação ao cancro da mama como a outras questões de saúde, é extremamente importante, seja para prevenir problemas maiores, seja para minimizar os efeitos negativos de alguma doença crónica que já exista.
Desde muito nova que tenho problemas osteoarticulares, e o maior desafio é lidar com as constantes dores nas costas. Os voos longos, o peso das malas e mochilas (até mesmo o da máquina fotográfica) ou conduzir durante muito tempo agravam o problema. Para combater isso, tenho vindo a adoptar algumas estratégias. Viajo com pouca bagagem e uso uma mala de quatro rodas, tento não carregar muito a mochila e distribuo a carga também por bolsas pequenas, que uso cruzadas à tiracolo ou à cintura.
Além disso, nas minhas viagens tento sempre caminhar bastante, alternando com algumas pausas. A actividade ajuda a aliviar a tensão. Opto por um ritmo intermédio, nem muito lento (que, estranhamente, piora as dores das costas) nem demasiado intenso.
A alimentação é outro ponto crucial. Evito comer carne, embora goste de experimentar a culinária dos locais que visito. Os pratos pesados ou com muita gordura também não me caem bem, sobretudo à noite, por isso opto muitas vezes por um bom pequeno-almoço e refeições mais simples ao longo do dia, que me dão energia para aproveitar a viagem sem me sentir inchada ou indisposta. Em boa verdade, nem sempre é fácil, porque há países em que a comida é uma perdição… Mas faço algum esforço por me portar bem.
Viajar é maravilhoso, mas sem saúde a experiência perde-se. Manter alguns cuidados, seja com exames de rotina ou com pequenos gestos no dia-a-dia, é a chave para viver e viajar mais e melhor.
Inês Miranda (Sempre Entre Viagens)
Viajar a trabalho como factor indutor de saúde mental
Para além das viagens clássicas de férias, que faço com regularidade e que ajudam imenso a relaxar e indiretamente contribuir para a manutenção de uma boa saúde mental, eu viajo muito a trabalho também.
À partida estas viagens teriam tudo para ser bastante cansativas, já que as horas de trabalho são muitas mais, e os horários e logística da viagem muito mais complicados. No entanto sinto que esta falta de rotina que implica a saída do escritório e voar para o outro lado do mundo traz uma dinâmica que me satisfaz.
É algo contraditório mas apesar do potencial prejudicial que poderá ter na saúde física, os ganhos a nível de saúde mental – no meu caso – sobrepõem-se sempre.
Ana Granjo (Gato Vadio)
Como a perspetiva de uma viagem acelerou a recuperação
Uma viagem pode ser uma poderosa motivação para a recuperação de problemas de saúde, oferecendo um objetivo positivo e uma razão para acelerar o processo de reabilitação.
Eu, por exemplo, tive uma fratura trimaleolar que exigiu cirurgia, uma condição que costuma implicar uma longa recuperação. No entanto, sabendo que tinha uma viagem planeada para o Sri Lanka apenas quatro meses após a operação, encarei a minha recuperação ainda com mais determinação.
Com o foco na viagem, cumpri rigorosamente as indicações médicas e as sessões de fisioterapia, conseguindo recuperar mais rapidamente do que o esperado. A antecipação da aventura e o desejo de aproveitar ao máximo a experiência ajudaram-me a manter uma atitude mental positiva e um ritmo consistente na minha reabilitação.
E para vocês qual é o papel da viagem na saúde individual?