Nem a previsão das primeiras chuvas outonais a sério nos demoveu: em meados de Outubro fomos até ao Alto Minho, para mais um fim-de-semana de passeio e convívio na região de Melgaço. Desta vez, o local de poiso escolhido foi a Branda da Aveleira, uma aldeia turística perto de Castro Laboreiro.
Sábado: passeios, convívio e boa comida
Uma branda é uma aldeia e/ou pastagem onde os habitantes das regiões agrícolas do norte do país se instalavam nos meses de bom tempo (por oposição às inverneiras, habitadas nos meses mais frios). A Branda da Aveleira é uma dessas aldeias. Progressivamente esvaziada de utilidade ao longo dos anos, os proprietários das casas rústicas (a que se dá o nome de “cardenhas”) decidiram recuperá-las para fins turísticos. Em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, é um local perfeito tanto para descansar como para servir de base a caminhadas e passeios por uma das regiões mais fascinantes de Portugal. E foi isso que fizemos: descansámos à lareira, entre conversas, histórias, jogos e gargalhadas; e passeámos tanto quanto o tempo nos permitiu.
A aldeia tem várias casas disponíveis para alugar, todas devidamente equipadas, e estas são aquelas onde ficámos: Casa da Fonte, Casa do Azevinho, Casa do Rio, Casa do Castanheiro e Casa dos Barreiros.
No sábado, o São Pedro foi nosso amigo e ofereceu-nos um dia radioso, que começou com o pequeno-almoço no restaurante O Brandeiro – a uma curta caminhada a pé das casas da aldeia – onde também jantámos nesse dia e voltámos a tomar o pequeno-almoço no domingo.
Estômagos aconchegados, era hora de desmoer a refeição generosa. Guiados pelo Henrique da Azevim Nature – Reservas e Turismo (que também gere algumas das casas onde pernoitámos), percorremos os 8 km do Trilho da Branda da Aveleira, um percurso pedestre circular no extremo norte da Serra da Peneda que não oferece dificuldades de maior, a não ser a vontade de parar constantemente para tirar fotografias. No caminho, por canejas e trilhos florestais, e com o magnífico cume rochoso da Penameda como cenário durante parte do tempo, cruzámo-nos com vacas barrosãs e caçadores, passámos pela Charca do Golo da Areia, e depois fomos espreitar a Mamoa do Batateiro. Semi-enterrado no solo e no meio de um pinhal pintado com as cores de Outono, este monumento megalítico está bastante bem conservado, muito provavelmente por se encontrar num lugar recôndito de uma região pouco povoada. A câmara do dólmen, com uma dimensão generosa, tem sete esteios, num dos quais existem vestígios de gravuras rupestres.
Depois do passeio, mal tivemos tempo para descansar: estava na hora de ir até Castro Laboreiro, onde tínhamos almoço marcado no restaurante do Hotel MiraCastro. Regalámo-nos com as entradas, mais o bacalhau e os típicos pratos de carnes no forno, e a seguir as sobremesas e o digestivo – tanta e tão boa comida que praticamente nem sobrou tempo para passearmos pela aldeia no final da refeição. Apenas conseguimos ir espreitar a escultura que homenageia o cão de Castro Laboreiro, uma das raças caninas mais antigas da Península Ibérica, que tem servido ao longo dos séculos como animal de guarda e vigilância, desde sempre indispensável na proteção dos rebanhos contra os ataques dos lobos. A escultura, concebida por Albano Martins no âmbito do Programa de Intervenções Artísticas e Comunidade “No Minho, não há aldeia melhor do que a minha!”, foi instalada em 2022 sobre um maciço rochoso, de onde parece estar a tomar conta da povoação que se estende mais abaixo.
Os 20 km que separam Castro Laboreiro da Branda da Aveleira foram mais uma oportunidade para apreciarmos as paisagens admiráveis da Peneda. A meio caminho, não resistimos a parar para observarmos um grupo de garranos que por ali andava à solta, a pastar, e ficámos derretidos com um potrozinho que cabriolava de um lado para o outro.
De volta ao Brandeiro, esperava-nos o Presidente da Câmara de Melgaço, Manoel Batista, para dois dedos de conversa – que não foi longa, mas foi cheia de boa disposição e gargalhadas (e juro que o espumante Alvarinho com que brindámos ao fim-de-semana e à região não teve nada a ver com isso…!).
Depois do jantar, reunimo-nos numa das casas, à volta da lareira, para um serão “à moda antiga”: sem televisão nem smartphones, houve histórias e anedotas, jogos de cartas, troca de ideias e muito, muito riso. Para mim, estes momentos de convívio e de estreitar laços são mesmo o melhor dos nossos encontros.
Domingo: museus, boa comida e até à próxima
Tínhamos previsto uma manhã de atividades mais ou menos radicais organizadas pela Melgaco Whitewater, rafting Rio Minho, mas desta vez o tempo não ajudou: a chuva tinha começado a cair durante a noite e não dava tréguas. O que vale é que nesta região há muito para ver e fazer, chova ou faça sol, e com o apoio da Câmara conseguimos encontrar facilmente um programa alternativo mesmo na vila de Melgaço.
A primeira paragem foi no Espaço Memória e Fronteira, instalado no edifício resultante da ampliação do antigo matadouro municipal. Este núcleo museológico aborda dois temas muito importantes da história recente da região: a emigração e o contrabando.
De facto, e tal como sucedeu um pouco por todo o país, e sobretudo nas zonas rurais, o concelho de Melgaço viu a sua população decrescer nos anos 60 e 70 maioritariamente devido ao êxodo dos seus habitantes tanto para o litoral como para o estrangeiro. Quem emigrava, em busca de uma vida menos ligada à agricultura e mais rentável, fazia-o muitas vezes de forma ilegal.
Outra vertente indissociável das povoações raianas da região é o contrabando, tantas vezes forma de sobrevivência dos habitantes dessas aldeias, e que se fazia em ambos os sentidos. Atividade que implicava risco de vida para quem a desenvolvia, estava também intimamente ligada à emigração, pois eram geralmente os próprios contrabandistas que orientavam a passagem da fronteira “a salto”.
No Espaço Memória e Fronteira está preservada para o futuro, e bem documentada, a história verídica de muitas das pessoas que viveram estas realidades.
Outro dos espaços expositivos de Melgaço que é imprescindível visitar é o Museu de Cinema-Jean Loup Passek, instalado no edifício onde em tempos se encontrava a guarda-fiscal. Este museu preciosíssimo guarda toda a (enorme) coleção de material sobre cinema recolhida ao longo da vida pelo escritor e crítico de cinema francês, que foi também diretor do departamento cinematográfico do Centro Georges Pompidou, em Paris. Jean Loup Passek doou todo o seu espólio ao Município de Melgaço, que inaugurou o museu em 2005. Esta fabulosa coleção é parcialmente revelada ao público na exposição permanente e nas exposições temáticas temporárias que vão sendo organizadas todos os anos. O museu é também altamente recomendável para quem tem miúdos, e eles vão adorar descobrir os aparelhos criados na época pré-cinema e os brinquedos óticos.
Despedimo-nos da região e do fim-de-semana com um fantástico almoço na Tasquinha da Portela, em Paderne, a poucos quilómetros da vila. Para mim, este é um dos melhores restaurantes do Minho. Sabem aliar a inovação aos pratos tradicionais, e tudo o que lá se come é saborosíssimo. Têm, além disso, uma excelente garrafeira e, melhor ainda, um atendimento caloroso e muito profissional, num espaço agradável e não demasiado grande.
Mas tudo o que é bom tem um fim, e depois deste grande almoço tivemos mesmo de dizer adeus – a Melgaço, e uns aos outros. Mas que digo eu? Não foi um adeus, foi um até breve! É que o próximo encontro ABVP já está marcado (só ainda não sabemos onde será), e daqui a poucos meses já estaremos novamente juntos para mais um fim-de-semana memorável.
Bloggers que participaram neste fim-de-semana:
365 Dias no Mundo (Raquel Morgado e Tiago Cerdeira Pinto)
Alma de Viajante (Filipe Morato Gomes)
Bornfreee (Rui Barbosa Batista)
Ir em Viagem (Vera Duarte e Marcelo Andrade)
O Berço do Mundo (Ruthia Portelinha)
Passaporte no Bolso (Mónica Alves)
Sempre entre Viagens (Inês Miranda)
Viajar Porque Sim (Ana C. Borges)