Viagens de superação: Sofia Martins (entrevista)

Nome: Sofia Martins

Profissão: Engenheira Informática

Data de nascimento: 1970

Local de nascimento: Lisboa

Local de residência: Setúbal

Próximas viagens: Ainda a definir

Blog: Justgo by sofia

1. O que significam as viagens para si?

Para mim, viajar é um verdadeiro desafio.  O facto de ter mobilidade reduzida e de me deslocar numa cadeira de rodas faz com que cada viagem seja um misto de sensações, em que se junta a vontade de ir e partir à descoberta, com o medo do inesperado e de não conseguir superar alguma situação mais complicada. 

As viagens, além do que nos trazem de libertação, de conhecimento de novas culturas e de momentos de descontração, para mim representam, também, a superação de inseguranças que me tornam mais forte no meu dia a dia.

O facto de me deslocar numa cadeira de rodas num mundo que não está, ainda, preparado para todos, faz com que sair da minha zona de conforto seja uma aventura.

Nas ruas calcetadas de Milão.

2. Entre os destinos que já visitou, há algum que a tenha marcado de forma especial? Conte-nos.

Talvez a viagem à China. Parti com algum receio daquilo que ia encontrar e de que algo corresse mal, devido à minha situação. Fiz alguma pesquisa antes de partir e percebi que nem todos os locais iriam ter acessibilidade, o que vim a comprovar depois.

No entanto, isso não me impediu de explorar o destino e de conseguir visitar a maior parte dos locais. Estar na Muralha da China foi um momento especial: apesar não ter conseguido explorá-la como gostaria, estive lá, vi e senti a grandiosidade daquela obra.

Esta viagem mostrou-me que, apesar das limitações, há sempre forma de aproveitar os destinos e ir um pouco mais além.

3. O que mais a influencia na hora de escolher um destino de viagem?

A minha escolha recai, normalmente, em destinos que ainda não conheço. Por norma, não escolho alguns destinos menos evoluídos e, consequentemente, pouco acessíveis pois dificilmente iria desfrutar da viagem.

Porém, como gosto de desafios, por vezes o objetivo é mesmo explorar destinos desses. O clima também influencia a escolha, pois gosto de viajar com bom tempo e calor.

4. Já viveu fora de Portugal mais que seis meses? Se sim, onde e o que retirou dessa experiência?

Vivi um ano em Toledo, numa situação muito particular, pois foi em Espanha que tive o acidente que me deixou paraplégica e, por isso, fiquei um ano em recuperação no hospital.

O internamento permitia saídas ao fim de semana, pelo que conheci muitas pessoas com quem viajei. Tomei assim contacto com costumes e vivências do país com maior profundidade, o que me deu uma visão de Espanha e dos espanhóis muito próxima, sendo um país em que me sinto em casa.

5. Explique o que é o seu blog de viagens e a razão da sua existência.

A dificuldade que sinto nas minhas viagens, o facto de ter que gastar mais dinheiro para o conseguir fazer, o não poder ir a alguns destinos pouco acessíveis fez com que criasse o JustGo, com o objetivo de partilhar as minhas experiências pelo mundo e incentivar outras pessoas a fazê-lo também. Mas, principalmente, procuro desafiar o mundo e os seus preconceitos e mostrar que o mundo é de todos e para todos.

Outro objetivo, talvez o principal, é o de promover boas práticas de turismo em termos de acessibilidades, esperando alertar para esta questão e fazer com que mais locais se tornem acessíveis. Sendo assim, além dos relatos das viagens, publico também artigos de opinião sobre o tema e reviews de hotéis, restaurantes, museus e outros espaços de lazer que são exemplo dessas boas práticas.

6. Como surgiu o nome do blog?

JustGo? O nome surgiu naturalmente, porque é essa a mensagem que quero passar: não vale a pena pensar e investigar muito. Apenas vá e depois logo se vê! Alguma coisa se há-de desenrascar!!

7. Destaque um dos posts de que mais gosta no seu blog e explique porquê.

Esta não é muito fácil… talvez escolha o primeiro artigo que escrevi, O melhor dia da viagem. Porque resume um pouco a mensagem que quero passar, sobretudo a quem ficou recentemente em alguma situação de mobilidade condicionada. Espero que sirva de motivação para continuarem com esperança.

8. Alguma dica para quem pretende começar agora um blog de viagens?

Ter um blog de viagens com algum profissionalismo não é fácil. Um blog requer muita dedicação, muito trabalho e muito empenho. Existem hoje muitos blogs de viagem pelo que, para começar, há que apostar na qualidade e fazer algo diferente daquilo que já existe. 

Explorar a Islândia.

9. Que papel desempenham os blogs junto de outras pessoas que gostam de viajar?

Os blogs são ótimas ferramentas para quem viaja. Facilmente se consegue informação sobre o destino, quais os lugares a visitar ou qual a melhor altura para ir. Mas, para mim, o melhor é que os bloggers que seguimos têm, normalmente, o mesmo modo de viajar que nós, o que permite sugestões mais ao nosso gosto. 

10. Qual é o seu maior sonho por cumprir?

O meu maior sonho é conseguir planear uma viagem sem estar preocupada com as acessibilidades mas, para que isso aconteça, há ainda um longo caminho pela frente. Eu iniciei o meu e já levo bastantes seguidores comigo. Cada vez que apareço num local que não está preparado para pessoas com mobilidade condicionada, deixo alguém a pensar e acredito que mudo alguma coisa nesse sentido.

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Ruthia Portelinha
Ruthia Portelinha

Viajante, mãe babada, chocólatra, amante de livros e museus.
Autora do blog O Berço do Mundo.

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