Viajante introspetivo e discreto: Pedro Costa (entrevista)

Nome: Pedro Costa

Profissão: Engenheiro Mecânico

Data de nascimento: 1968

Local de nascimento: Lisboa

Local de residência: Ovar

Próximas viagens: Sudão

Blog: Carimba o Passaporte

1. O que significam as viagens para si?

Revejo-me muito numa frase, cuja autoria aparentemente permanece anónima, que diz: “viajo não para fugir da vida, mas para que a vida não fuja de mim.”

São momentos de lucidez, um espreguiçar da alma. Um pouco menos de ignorância, um pouco mais de consciência.

India
Sadhu no templo, em Varanasi (Índia).

2. Entre os destinos que já visitou, há algum que o tenha marcado de forma especial? Conte-nos.

Difícil, muito difícil, essa escolha, porque todos me marcaram. Se tivesse, de facto, que escolher um, talvez apontasse um país e uma viagem: a Mongólia em 2008 e o Transiberiano (Rota Transmongol), em 2013.

O primeiro, porque conheci pessoas que me marcaram para a vida e foi onde tive o primeiro contacto com um deserto (Gobi). O Transiberiano, porque não deve haver viagem mais mítica para quem gosta de comboios.

3. O que mais o influencia na hora de escolher um destino de viagem?

Definitivamente o que for capaz de causar maior choque cultural, o que me puser mais longe da minha zona de conforto. Mas também o que preencher o meu imaginário, o que me remeter para um artigo numa revista, um documentário na televisão, uma música ou imagem que me tenham marcado.

4. Já viveu fora de Portugal mais que seis meses? Se sim, onde e o que retirou dessa experiência?

Infelizmente ainda não tive essa experiência. Acredito que é com ela que, de facto, se viaja. É um mergulho mais intenso, mais vívido e genuíno quer na cultura, quer na identidade do país que nos acolhe.

Bigodi-Uganda
Uma criança espreita um mzungu (branco) – Bigodi, Uganda

5. Explique o que é o seu blog de viagens e a razão da sua existência.

O Carimba o Passaporte resultou de alguma insistência de conhecidos mas também de uma vontade secreta de ter um blog, de escrever o que sentia, o que via e o que vivia quando visitava um país. Realmente, ele nasceu em segredo, após uma viagem à Turquia, na passagem de ano de 2009 para 2010.

Durante algum tempo escrevi sem ninguém saber que o fazia. Era uma existência tímida e discreta; um genuíno “guilty pleasure”. Depois, foi-se abrindo aos poucos, às pessoas e ao mundo.

Incrível pensar que, dentro de poucos meses, comemorará dez anos. Mas mantém-se fiel à sua génese. É um blog de vivências, de emoções, reflexões e muito pessoal. Portanto, introvertido, introspetivo e contido. Um blog de mãos nos bolsos e de passos lentos.

6. Como surgiu o nome do blog?

Por muito que digamos o contrário, o orgulho de quem viaja reflete-se num passaporte recheado de carimbos. Mesmo quando viajamos por um país onde esse carimbo já deixou de ser necessário, nós projetamo-lo nesse documento tão especial para nós. O passaporte é como o peito de um orgulhoso militar, pejado de medalhas de bravura.

Cada carimbo é um pedacinho de memória que orgulhosamente gostamos de ver, rever e mostrar. Representa fronteiras que se abriram perante nós, conquistas pessoais. Carimba o Passaporte representa esse ato oficial de que tanto gostamos e ansiamos por ver.

O viajante

7. Destaque um dos posts de que mais gosta no seu blog e explique porquê.

Destaco “Holi: vermelho, amarelo, verde, muito rosa e algum preto” porque representa a concretização simultânea de dois grandes, e antigos, desejos: estar em Varanasi e participar no festival Holi.

Foi um dia intenso e profundamente marcante.  Penso que consegui passar para o “papel” a importância, a intensidade e a cor de um dos dias mais importantes do calendário indiano.

8. Alguma dica para quem pretende começar agora um blog de viagens?

Façam-no para vós próprios, não pelos outros. Pelo vosso prazer de escrever, de relatar, de contar histórias. Ponham calor, ponham alma e emoção no que escrevem. Não se mecanizem. Façam-nos sentir que estivemos lá convosco, atirem-nos para dentro da vossa narrativa.

Façam-no de uma forma honesta e sincera.

Estrada Militar da Geórgia

9. Que papel desempenham os blogs junto de outras pessoas que gostam de viajar?

Fazem sonhar, viajar ou criam/possibilitam essa vontade. São a ponte entre alguém que foi a um determinado destino e a possibilidade de também nós irmos a esse lugar. São um desbravar de caminhos.

10. Qual é o seu maior sonho por cumprir?

Sou pouco dado a sonhos. Mas se tivesse de pensar num destino de sonho seria a Papua Nova Guiné. Apesar de politicamente inconstante, cheio de conflitos internos e, portanto, pouco recomendável para turismo, a Papua Nova Guiné reúne o que mais procuro e aprecio num destino de viagem: é geográfica e culturalmente distante do ocidente, profundamente tribal, cénico e muito pouco procurado pelas massas.

Acredito que será uma questão de tempo até que se torne um dos destinos mais desejados do sudoeste do Pacífico.

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Ruthia Portelinha
Ruthia Portelinha

Viajante, mãe babada, chocólatra, amante de livros e museus.
Autora do blog O Berço do Mundo.

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