Mala de viagem para cinco formas de viajar

Porque fazer a mala de viagem é um tormento para muita gente, desafiou-se cinco viajantes experientes a contarem como fazem a mala para uma viagem.

Os filmes retratam muitas vezes aquela viajante que se senta em cima da mala para em esforço a fechar, ou malas que “explodem” de tão cheias. Provavelmente também já viu no aeroporto passageiros a abrirem as malas e fazerem malabarismos para contornar o peso. Eu própria já fui destas. Carregava malas que não conseguia levantar e torcia para elas passarem na balança. Entrava no avião com bagagem pesadíssima e fazia o esforço de a pôr sozinha no espaço próprio para não ser apanhada a transgredir o peso.

Chegava a abrir as malas, achando que, com um truque de magia, fazia desaparecer os quilos a mais. Nessa altura não ia em turismo, era emigrante. Para lá vai tudo o que couber, para cá vem o que tivermos de diferente para trazer: lagostas, havaianas, panos africanos, mangas, amendoim, etc.

A pergunta que muitos viajantes recebem é “Como levas tudo o que precisas?”. A resposta é fácil: aprendendo a viver com o essencial. Todos já tentámos vários métodos na dobragem da roupa, vimos vídeos com métodos que nos deixaram tentados a experimentar e, provavelmente, acabámos uma viagem a pensar “para a próxima vai só o essencial”. Hoje posso dizer que já consigo saber se estou a cumprir o peso permitido ao pegar na mala – sou uma balança humana. 

Escolhi cinco tipo de viajantes para nos explicarem como fazem a mala para as suas inúmeras viagens. Queria saber se os bloggers ainda se mantinham fiéis à viagem ou se já viajavam mais preocupados com o conteúdo que preveem colocar nas redes, levando a um condicionamento da bagagem.

Será que se renderam aos likes e viajam a pensar nas fotografias que vão tirar? Será que levam peças a combinar com o cenário? Será que usam aqueles truques das multicamadas para aparecerem com um vestido vaporoso que esconde as leggings de caminhada e os ténis confortáveis? Ou será que têm aquele espírito livre de levar apenas umas botas de caminhada, umas calças e cinco t-shirts? 

Escolhi um casal que viaja de mota, uma viajante com mobilidade reduzida, uma solo traveller, um casal que viaja de forma sustentável e um casal com uma criança. São cinco personalidades diferentes, cinco formas de viajar, de selecionar o que vai na mala ou até de escolher entre mala e mochila, e cinco formas de encarar o processo. 

conteúdo da mala de Quilometro Infinito
Retirada do Blog: Quilometro Infinito

Patrícia, Quilómetro Infinito

Os Quilómetro Infinito são um casal que viaja de mota, road trips é com eles. Mas como será que fazem a mala de forma a caber na mota?

“O quê?! Vocês vão de férias e só têm aquelas malinhas para levar a bagagem? A pergunta que sempre ouvimos, quando, subestimando a capacidade de carga da nossa mota, alguém se questiona como fazemos para gerir a bagagem. A nossa companheira de duas rodas é como a mala das mulheres: cabe sempre mais qualquer coisinha! Seja no interior, seja no exterior, agarrado com suportes.

Mas o facto é que somos sempre muito práticos naquilo que escolhemos, por uma questão de gestão do dia a dia. Afinal, mudamos de alojamento frequentemente e fazer puzzles de bagagens não é muito agradável. Assim, seja para um mês de viagem, seja para uma semana, o que colocamos na mota é sempre igual: 5 t-shirts, 5 mudas de roupa interior, 1 roupa de banho, 1 par de calças de ganga/calções, 1 pijama e 1 casaco estilo polar para cada um. Produtos de higiene pessoal, calçado confortável, chinelos e o equipamento fotográfico. E as nossas bagagens estão prontas, leves e com espaço livre. Pelo caminho vamos lavando. Viajamos sempre com os nossos fatos de proteção de motociclistas, que nos dão proteção ao frio e à chuva, sem necessidade de mais equipamento.

Se foi sempre assim? Não! Na nossa primeira viagem de 3 semanas, levámos tudo e mais alguma coisa na mota, e suspeito que se pelo caminho não tivéssemos enviado carga para casa pelo correio, as malas teriam explodido em pleno passeio. 

A única questão que provoca argumentação entre nós, um casal de motociclistas, é no que aos produtos de higiene pessoal diz respeito. O João, fica particularmente enervado com as bolsas e bolsinhas onde levo aquelas coisas essenciais femininas (ok…algumas nem por isso) que ele diz não precisar. – Para mim um sabão, desodorizante, pasta e escova e dentes chega! Diz ele. Certo é que, em viagem, ouço muitas vezes a pergunta: – Tens uma pinça? Por acaso trouxeste uma lima? Tens alguma pomada para picadas de mosquitos? E para queimaduras? Por acaso não trouxeste protetor solar? Tens creme gordo?”

mala de viagem de Menina Mundo
Retirada do Blog: Menina Mundo

Nelson, Menina Mundo

Os Menina Mundo viajaram uns meses com a sua Mia. E a nossa dúvida passa pela bagagem de uma criança pequena. Será que leva mais ou menos roupa que os pais?

“A grande viagem da nossa vida teve como destino a Ásia e durou cerca de meio ano. O blog nasceu para acompanhar a nossa aventura a viajar com a nossa filha que tinha 17 meses à data da partida e, claro, a bagagem foi pensada meticulosamente. Viajar com uma criança tão nova implicou, desde logo, levar alguns brinquedos (apesar de ela preferir paus, pedras ou folhas, que apanhava em qualquer lugar) e uma farmácia de viagem bastante completa, bem como todo o equipamento necessário para contarmos as nossas histórias no blog: 2 computadores portáteis, 2 câmaras fotográficas, objetivas, discos rígidos, carregadores, etc.

Como a mochila “eletrónica” seria pesada, privilegiamos equipamento pequeno e leve. Já o resto da bagagem, foi relativamente simples. Simplificamos tudo: para nós, Miriam e Nelson, pouca roupa e calçado versátil, tudo teria que ocupar pouco espaço. Para a Mia, tendo em conta que ela “cresceria de braços e pernas” durante a viagem, levámos a roupa mais versátil e adequada aos primeiros meses, sabendo que teríamos que comprar algumas peças. Contando tudo, à parte da mochila eletrónica, levámos 23kg (uma mala de 80 litros) e não sentimos falta de nada. Como dizia a Mia durante a viagem, “uma casa somos nós“.

Sofia, Just Go

A Sofia, do blog Just Go, vive o seu dia-a-dia de cadeira de rodas, mas isso não a impede de viajar. Como será que faz a sua mala?

Retirada do Blog: JustGo

“O modo como se faz uma mala de viagem depende muito de pessoa para pessoa, mas acima de tudo, no meu caso, estando numa cadeira de rodas, depende do destino para onde vou e até do meio de transporte que vou usar! Se vou de avião tenho que pensar nos acessórios que levo para a cadeira e no seu acondicionamento, para que o embarque funcione da melhor maneira e não tenha surpresas ao chegar ao destino. Sendo um país menos evoluído, onde dificilmente consigo comprar aquilo que necessito, sejam produtos de farmácia ou algum equipamento que possa precisar para qualquer eventualidade com a cadeira, terei que ir prevenida com tudo.

Por tudo isto, fazer a mala para viagens grandes, como a que fiz de três semanas na China, é sempre um grande stress porque, apesar de fazer listas e de ser muito organizada, acho sempre que me esqueço de qualquer coisa (o que nunca acontece)! Desde que numa viagem a Utrecht, para participar num torneio de ténis, a minha mala não chegou e tive que comprar todo o equipamento necessário para poder jogar que levo sempre uma mala de cabine com o imprescindível e sem o qual não posso mesmo passar. O grande objetivo é levar o menos que conseguir para ser o mais independente possível, o que vou conseguindo à medida que viajo.”

Sandrina, The Wise Travellers

Os The Wise Travellers são um casal de viajantes que assumiu o compromisso de viajar de forma mais sustentável.

Retirada do Blog: The Wise Travellers

“Na hora de fazer a nossa mala de viagem, seguimos sempre a regra do ‘menos é mais’. Por isso, normalmente viajamos apenas com uma mochila grande para os dois, e duas mais pequenas como item pessoal. 

Utilizamos organizadores de viagem pois são muito práticos e, às vezes, até partilhamos um dos organizadores. Nas viagens mais longas levamos apenas roupa para 7 dias, pois conseguimos sempre lavar e secar. Foi o que fizemos nos quase seis meses de viagem pela Ásia. O mais desafiante é mesmo dispor tudo na mala de viagem, há que otimizar e aproveitar cada espaço. 

Uma técnica que utilizamos é levar casacos que sejam multifuncionais e que transportamos connosco, nem que seja na mão. Reduzimos ao mínimo de produtos de higiene (no destino também existe), sempre que possível dividimos e optamos por produtos ecológicos como champôs e sabonetes sólidos. A nossa farmácia de viagem é o mais básica possível.

No final, independentemente do destino, gostamos de ser práticos e de ter a liberdade para não andarmos com imensa ‘tralha’ atrás de nós.”

Maria João, Joland

A Maria João do blog Joland viaja maioritariamente sozinha. Como faz a mala uma viajante que não tem com quem dividir o peso da bagagem?

mala de viagem de Joland
Retirada do Blog: Joland

“Nas minhas viagens a solo mais longas tento ser o mais prática possível. Quanto menos peso transportar comigo, mais fáceis são as deslocações, pelo que tento reduzir ao máximo o que coloco na mala (dentro de limites razoáveis, claro). Levo roupa suficiente para uma semana. Quando a viagem ultrapassa esse tempo, começo a lavar a que está suja.

Um par de sapatos para caminhada, uns chinelos e talvez umas sandálias. Uma pequena toalha de microfibras para o banho e um pareo para as idas à praia, que é usado simultaneamente como vestido e como toalha. Quanto aos produtos de higiene são sempre em tamanhos reduzidos e, sempre que possível, prefiro comprá-los no destino para não andar desnecessariamente carregada.”

Blogue: Menina Mundo

Concluindo, os bloggers ainda deixam o destino e o sentido prático ganhar. Levam o indispensável e sabem pela experiência que quase tudo o que temos em casa se encontra no destino. Precisam do material fotográfico, e isso implica compensar com menos peso e espaço para outras coisas. São fãs de lavar roupa em viagem e de organizadores para a roupa ficar com menos volume.

A Sofia mostra que nada nos impede de viajar, porque até a mobilidade reduzida encontra uma forma de conquistar o mundo, portanto não é a bagagem que a vai condicionar. O Nelson e a Miriam mostram que se pode viajar com crianças de qualquer idade. E com pouca bagagem.

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Raquel Morgado
Raquel Morgado

Viajante, profissional de saúde, mãe, viciada em séries e livros. Não conta países visitados, mas faz contagem decrescente até à próxima viagem. Co-autora do blog 365 dias no mundo.

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